Pesquisas demonstram que cerca de 25% das startups são encerradas nos dois primeiros anos de atividade. Dentre as três causas principais, duas delas se relacionam com a formalização da empresa e a uma trata da dificuldade da startup atingir o mercado com a inovação trazida. Embora a última caiba aos empreendedores resolverem por meio da imersão em programas de incubadoras ou da contratação de parceiros mais experientes, as duas primeiras possuem uma solução mais fácil e certamente menos custosa.
Nesse sentido, afirma Erik Frederico Oioli:
Há, inclusive, aqueles que alegam que seguir as leis numa fase inicial de negócio pode bloquear o próprio processo de inovação ou mesmo impedir o desenvolvimento do negócio. Nada poderia ser mais enganoso e custoso. Se, por um lado, é verdade que a burocracia em excesso dificulta o ambiente de negócios no País, ignorar as regras do jogo ou o assessoramento jurídico pode inviabilizar negócios que teriam tudo para ser prósperos no futuro.
Mais diretamente, as causas de fracasso que podem ser prevenidas pelo simples aprendizado das regras do jogo são: a dificuldade de obter financiamento e os conflitos entre sócios. Conhecendo a cabeça de diversos empreendedores, torna-se tranquilamente explicável o motivo pelo qual essas causas de fracasso precoce das startups são recorrentes no mercado.
Primeiro, os empreendedores confiam demais no projeto inovador que estão desenvolvendo e acreditam piamente que conseguirão captar recursos quando demonstrarem seu impacto. Acontece que o financiamento bancário se mostra excessivamente caro para ser a opção, pois as instituições exigem uma segurança a partir das demonstrações financeiras da empresa e geralmente ainda não se atingiu o breakeven da operação (provavelmente ainda nem sequer há um CNPJ para que o empréstimo seja feito em nome da startup).
O financiamento via investidores-anjo, por sua vez, também acaba ficando absolutamente inviável. Embora esses profissionais certamente tenham mais atenção para ideias inovadoras do que os gerentes de banco, o que costuma passar despercebido para os empreendedores é que isso nunca é suficiente para que os investidores ponham a mão no bolso. Mesmo que o pitch seja bom, ele foi um dos milhares que o investidor ouviu. Além disso, como esses investidores costumam ter portfólios compostos por diversas startups, precisam utilizar alguns critérios para selecionar os projetos.
O investidor não está procurando ideias, mas operações que já foram testadas adequadamente e que ofereçam segurança. Disponibilizar-se apenas nesse momento para a formalização costuma ser a maior demonstração de falta de profissionalismo por parte dos empreendedores. Veja que a segurança procurada se reveste tanto pela confiança no trabalho como com a criação de estruturas organizacionais que protejam o patrimônio pessoal dos sócios, evitem a autuação pela receita federal e estabilizem as relações pessoais. Caso ainda assim se consiga o investimento, o que é improvável, o risco observado pelo investidor com certeza reduziu o valuation da startup de forma relevante e se apresentou excessivamente custoso para os fundadores.
Segundo, assim como casais apaixonados, empreendedores acreditam que conflitos só acontecem na casa dos outros. Ocorre que as brigas entre sócios infelizmente não escolhem somente lares perturbados, envolvendo até mesmo as relações mais longas, estáveis e sinceras. Principalmente por ser um projeto inovador que demanda muito tempo e esforço dos fundadores, as expectativas, sobretudo quando o dinheiro começa a entrar, tomam uma proporção que não se tem ideia na fase de criação. É natural que aquele sócio que está mais envolvido com o projeto acabe se incomodando com aquele outro que tem a mesma participação social e trabalha menos. Depois que o conflito acontece, desaparecem os termos razoáveis para uma solução amigável e o divórcio inevitavelmente acaba parando na justiça.
De forma parecida, o investidor que integra a empresa como sócio também precisa que a sua participação seja protegida com um acordo que dificulte a diluição em outras rodadas de investimento. Não existindo um contrato social e um acordo de sócios, aumenta a possibilidade de que os conflitos acabem em ações judiciais com pedidos de devolução do capital aportado. O conflito atrapalhará novos investimentos e o custo com o processo poderá exterminar qualquer chance que a empresa tinha de crescer no mercado.
Embora o empreendedor seja avesso a tributos, saber jogar o jogo também é demonstrar profissionalismo. A formalização se mostra imprescindível depois de ultrapassada a fase de criação da startup, sendo o principal requisito para que um projeto que se apresenta viável não acabe desnecessariamente encerrando suas atividades antes do tempo. Lembra-se, porém, que a formalização do negócio sem o correto domínio das repercussões jurídicas que advêm das disposições contratuais pode levar ao exato mesmo fim, razão pela qual a melhor solução é confiar no trabalho de um advogado especialista.